Raiva - Castelo de Paiva
São vinte e quatro anos seguidos, que neste dia quatro de Agosto aqui venho, é o dia que se realiza a festa, mas não venho cá por questões de religiosidade. Não o faço nem o poderia fazer porque não sou crente, mas respeito totalmente quem o é, desde que o façam sem fanatismos.
Em muitos casos me relacionam com S.Domingos e as suas festas, dado que da minha acolhedora casinha, em Cancelos, vejo perfeitamente este local, a menos que haja fogueira (nevoeiro) e invialize a visibilidade do local . Venho aqui, porque foi neste local, e já lá vão vinte e três anos, que iniciei uma das recuperações mais importantes da minha vida, a abstinência alcoólica (que pode ser lido o meu testemunho noutro blogue Doente Alcoólico Recuperado). Cumpro vir neste dia, independente de muitos outros dias em que cá venho durante o ano, porque está-se bem neste lugar que dispôe de uma panorâmica fabulosa. Venho também recordar e pedir para que me tirem mais um retrato, e após isto que mais parece o cumprimento de um ritual, após a foto sinto quje entrei em novo ano e que tudo começa de novo. Tal como se fosse esse primeiro o que me dá um sentido e um forte impulso no desejo de continuar ainda com mais força. É, por assim dizer, um carregar de baterias para o ano em que acabo de entrar. Não controlo o tempo, mas sinto que, quando daqui saio, começa a contar mais um novo ano de Abstinência.
S.Domingos é um Santo em que os cristãos creêm muito, o que, todos os anos, os leva a deslocar-se em grandes quantidades para cumprirem as suas promessas. E agora, com acessibilidades boas, fazem-no em grande número, todos os fins de semana.
Apetece-me escrever o que então cantarolávamos:
São Domingos da Queimada
E também Santo Adrião
Para um lado o Rio Douro
Para o outro o Pejão
Recordo ainda o tempo em que a água que lá se bebia era levada por vendedores com um cabaço à cabeça. Água da fonte que vnham buscar ao fundo da Serra, misturando-lhe açucar e limão e que vendiam a dois tostões o copo.
O Ceguinho a cantar ao desafio com a sua cara metade. Entrava ele:
Oh Laurinda , oh Laurinda
Oh Laurinda, Laurindinha
Ainda ouvi dizer hà pouco
Que é triste viver sozinha
E ela que não se ficava, respondia-lhe:
Trata o Velho, trata o Velho
Trata ele de se gabar
Já tem corcunda nas costas
E a barba a desmaiar
Já não ouve cantar o Cuco
Se o Inverno apertar
E continuavam por aí adiante. Era uma verdadeira romaria onde por vezes, ao cair da noite, as coisas corriam pior, por causa de uns copitos a mais e os «Jogadores de Pau» se enrolarem entre si, eles que não eram pessoas para brincadeiras. Mesmo isso nos divertia, pois éramos crianças e tinhamos as pernas lestas.
Tempos que é muito bom recordar, porque isso nos ajuda a conservar a mente limpa.
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